14 de dezembro de 2014

A Viagem

Sonhei.
Sonhei que não havia mais luz nos meus olhos
Sonhei que a vida era breu.
No próprio sonho do sono
Arremeti ao meu sinistro fim
Ensaio Sobre a Cegueira?
José Saramago?
Deu-me um arrepio forte
Mas pensei; é sonho.
Saí esperdigota
Corredor afora
Não era possível não enxergar
O vácuo.
Alguma ideia,
Nalgum clarão
Sem luz
O negro de um branco total.
Pensei na água
A água que tudo limpa
E que dá a vida
A água que hidrata
A água que absorve
Pus a molhar os olhos
Como se lava o recém-nato
Cheguei-me a um filete
Um filete ínfimo
Somente naquele ângulo
Naquele lugar da circunferência ocular
Podia-se passear pelos 360 Graus.
E só no preciso ângulo.
Então já podia parar
E continuar
Durou horas
Até a completa claridade.
Acordei do meu sonho medonho.
E a chuva batia forte na janela
E a árvore de frente ao meu quarto
Sorriu pra mim.

2 comentários:

Pudou disse...

Tia, gostei bastante desse.
Me lembrou Manuel de Barros.

Queria escrever assim às vezes, com menos meandros, fissuras e digressões titânicas.

Nazaré Braga disse...

O sonho foi real.
Grande honra! Obg.