Hoje foi um dia bastante especial, participei de um Simpósio sobre as Obras de Bruno Tolentino. O que observei ali era um mito rodeado de seus saudosos admiradores e grandes amigos. Bruno havia deixado órfãos os que viveram ao seu lado. Órfãos, porém, amparados pela sua obra.
Era a homenagem dessa gente que conviveu com Bruno e que tinha a necessidade de passar para as gerações futuras aquilo que transbordava no coração de cada um. Bruno é isso mesmo, não cabe em uma pessoa só, transborda.
Havia grande necessidade de projetar e lançar Bruno como poeta e grande acontecimento desse século. A tacada dos mestres estava bem na minha frente. Não que Bruno já não fosse o grande nome da Literatura Brasileira, mas se fez necessário ressaltar. Como disseram alguns, talvez leve muitos anos pra isto acontecer, mas a semente precisa de adubo.
Vi um mais emocionado, outro mais exaltado, outro sério e compenetrado. Uma tarefa árdua e polêmica, pois Bruno é polêmico. Sei que Bruno ressuscitou hoje pelo passar de suas obras: As horas de Catarina, O mundo como idéia e a Imitação do amanhecer.
Cheguei a emocionar-me com uma professora da UFRJ que declamou um poema em alemão, traço de Bruno. Acho que nunca tinha visto esta língua tão de perto. Vi que carreguei o alemão com certo preconceito e que era uma tremenda bobagem, uma língua que propaga poesia como qualquer outra. Lembrei-me do que conheço de Rilke, pensei em Rilke sendo declamado em alemão.
Ainda a professora mostrou as obras de arte que Bruno retratou em seus poemas. Mostrou-nos as obras ressaltando o fundo amarelo que é uma projeção do sagrado, belo e infinito. A Epifania que Bruno fala: pó que transforma em brilho, assim vive.
Falou com precisão e cheio de detalhes: The Hunt in the Forest, de Uccello. A métrica das árvores retratada na obra. Uma outra obra sobre o brilho do olhar da moça, que avista para o nada ou parece que filtra você, (não me recordo do nome dessa obra).
Falou de Baudelaire, Goethe em sua memorável obra: Fausto. Que se une a Helena e esta desfaz com a morte do filho. De Lotte Lehmann, Marschallin, Strauss... Falou também de Bandeira, da amiga Cecília, Drummond... Fernando Pessoa, Camões... Todos que a enciclopédia Bruno Tolentino retratou, tocou. Bruno ressuscitou hoje pelos lábios dos seus amigos.
Eu fiquei com os traços de cada rosto e a seriedade com que passaram o legado ao seleto público. Copiei, escrevi e o que pude captar da obra que é inesgotável.
Canta a canção do lírio e do alecrim,
essa canção que és e que na treva, na escuridão da carne,
andava perto da imensidade que te invade.
E assim como o imenso te ampara,
ó voz tão clara que consolas e elevas,
vem, desperta,
matriz da eternidade e d'O sem-fim,
ó mãe de Deus, canta e roga por mim
(Última estrofe do O ANJO ANUNCIADOR)
Nazaré Braga
21/06/2008
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