14 de abril de 2012

Casa Branca - Série Crônicas

Gente como a gente precisa ampliar a capacidade de sonhar, para sobreviver neste mundo.
(Do amigo Joel Emídio da Silva)

Semana difícil de muitos altos e baixos e muita confusão. A gente sofre por ser a gente mesmo e tem que digladiar a todo instante.
Não estou acostumada com malícias e maldades, só existe o desconfiado jeito mineiro e o sorrateiro olhar de soslaio.
Tenho música e poesia em minha mente.
Ainda consigo escutar o assovio do passarinho no fundo da minha cabeça, imagino-o num voo nobre sobre a cachoeira branca que transborda às suas belas caldas caçoando da ingratidão das pedras, ignorando-as e seguindo sorrateiramente entre elas.
Cá, me vejo em pé feito dois de paus à fronte da montanha verde. Penso na exigência da máscara que não cobre meu rosto por completo que teima em escorregar a todo instante, o que revela imperfeições desse mundo tardio e tão exageradamente atrasado.
Bate uma saudade da “dona fessora” da gente humilde, dos “currupiões” e do “dipreposto” dos causos mineiros, do sertão, do mato, da paçoca e do medo da assombração.
Da macumba e da macumbeira, uma galinha preta que bailava no quintal disforme da casa branca. Quando eu olhava para lua cheia com meus olhos arregalados, não observava a beleza dum São Jorge corajoso, mas de um grande queijo mineiro com seus furinhos irregulares.
Entristeci, procurei, remexi, revivi e descobri que quando cheguei aqui depois do túnel negro, observei milhões de luzinhas resplandecentes e fiz um pedido para a quase finada estrela; que uma dessas luzinhas seria minha. Cá estou com a máscara escorregadia acreditando que “gente como a gente precisa ampliar a capacidade de sonhar, para sobreviver neste mundo”.

Nazaré Braga

São Paulo – 14/04/2012 às 23h00min

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