17 de janeiro de 2015

Acuda eu

“Ô leva eu
Minha sodade
Eu também quero ir
Minha sodade...
Leva eu, leva eu”
Composição: Tito Neto e Alveltino Cavalcanti
Cantor: Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano


Essas foram às últimas palavras de minha mãe no caminho do hospital, “acuda eu”. Eu, meu marido e minha irmã achamos que não seriam suas últimas palavras, pois crises até piores já tínhamos presenciado e nós meio que “acostumados”.

O hospital ficava a dois minutos da nossa casa lá nos montes mineiros que pareceram horas intermináveis. Minha mãe sofria com seu pulmão sem ar e naquele instante já quase sem vida queria viver e continuava a pronunciar o “acuda eu”.

Eram 03h00 da madrugada e as duas enfermeiras assíduas do pronto-socorro prestaram o atendimento. O Dr. Ricardo também estava lá, e o “acuda eu” foi cada vez mais baixo, eu ainda não tinha atinado que seria fatal. Nós três olhávamos um para o outro e o Dr. Ricardo pediu para que ficasse somente um no leito.

Saímos. Minha irmã ficou e em um minuto ela veio e disse: - Nossa mãe se aquietou e não a escuto mais.
Quando cheguei ao leito o Dr. Ricardo fazia as massagens e uma das enfermeiras bombeava o ar, a outra nas injeções, já inerte e era tarde, e eu não ouvi mais o “acuda eu”.
- O Dr. Ricardo virou pra mim e disse:
- Sua mãe obituou. Eu fiz que sim com a cabeça. Não tive lágrimas e nem escândalos, naquele exato momento entreguei minha mãe à minha irmã que faleceu há um ano, pois já não podia fazer mais nada.

Foram assim os momentos finais de minha mãe, eu sinceramente acho que ela queria viver mais, não entendi que ela acabaria ali. Não morreu de pressão alta e nem coronária como o cardiologista previa, pois sofria desde que eu era menina, morreu por falta de ar de uma bronquite aguda.

Eu fiquei com a sensação que deixei de fazer muita coisa, devo ter deixado me senti um nada. Ontem rezei e falei pra eu mesma que teria a resposta, não sei, dormi e hoje passei mais tranquila.

Deixo um abraço aos meus amigos que se manifestaram. Pude ver quanta gente boa tenho na minha vida, vou seguir 2010 com otimismo e muito trabalho.

Um forte abraço,

Naza
12/02/1928 - 10/01/2010

Um comentário:

Cleni disse...

Eu preciso sentir essa sua serenidade. Meu coração ainda está atormentado...