É tão bom saber ler
Meu pai escrevia apenas seu nome e sabia ler
Lia por trás dos olhos
Meu pai era um realista
Mas não sabia o destino do trem
Lia os fatos como eles eram. Nus!
E através desse seu realismo
Ensinou-me a saber ler
Não o nó da sua realidade
Mas da leitura encarnada das coisas
Nas serras, na lida, na gente.
Meu pai me deu a sua sensibilidade
Mesmo sendo realista
Fazia-me ler através dessa linguagem
Apresentando-me os sinais
Cantarolava o seu tarará
E me ensinava a ouvir sua melodia
Essa semana li Villa Lobos
Através de um único sinal
Do seu trem sem destino
Senti a mesma toada de meu pai
Daquele trem que não sabia onde ia
Que não sabia se sabia
Mas que continuava andando, cantarolando
Ereto, certo de si.
Era possível que eu não soubesse
Mas eu sabia
Sabia, sabia, sabia
Sabia e entendia a leitura.
Que correndo atrás do trem caipira
Via as minhas estrelas voarem.
(Meu pai que, se vivo fosse, completaria os seus 93 anos).
(Não consegui dar nome ao poema)
Fonte: O Trenzinho Caipira (H. V. Lobos)
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