Verifiquei os seus degraus.
Um sobrepondo ao outro.
Aquela corrente
Aquela continuidade.
Voltei para minha emaranhada cabeça
E olhei para minha vagabunda poesia
Olhei aqui dentro
Encarei e perguntei:
- Por que você me provoca isso?
Pensei na emoção
Naquilo que temos de mais profundo
Aquela sensação que só quem viveu
Consegue relatar
Memória.
Memória.
Escuso, impróprio
Aquele castigado
Que se castiga
Que se morre no relato
Que se morre no relato
Aquela dor que não passa
Aquela ferida
Talvez embasbacada
Ou talvez embaraçosa
É uma sensação de dor
É isso que ela provoca
Na hora veio à cabeça
Ele Ferreira Gullar
Ele Ferreira Gullar
Tão impróprio quanto é
O Deus do poema sujo
Sujo,
Claro,
E manchado de sangue
Memória.
Claro,
E manchado de sangue
Memória.
Sangue dos limpos
Da luta e o clamor
Através da cerca
Através da cerca
Um poema lotado
De vazio para muitos
Que ele disse que veio do susto
Eu diria espanto
Que espalhou
De sujeira verídica
De sujeira verídica
Deixando para ser decifrado
E eu cá com minha cabeça rolante
Rolando os degraus da escada
Cheio de pontapés
Sobressaltos
Sobressaltos
Um degrau se igualando ao outro
E assim se limpando
Se tornando desigualar
Grande esse Gullar.
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